EDITORIAL | MARÇO 2023

As relações desse imenso país que é a China com o ocidente foram marcadas ao longo dos séculos por períodos de aproximação e desconfiança mútua. É inevitável lembrarmo-nos da expressão “negócio da China”, neste contexto empresarial. Mas o seu significado remete-nos precisamente para um dos períodos negros dessas relações. Isto é, para as Guerras do Ópio, no século XIX, que levaram o império britânico a invadir e impor condições negociais muito desfavoráveis à China.

Com Portugal as relações nunca foram tão conflituosas, em parte pela pequena dimensão do nosso país, que lhe limitaria tentações mais expansionistas, mas também, acreditamos, pelas caraterísticas de um povo, talvez, de caráter menos belicista. A realidade é que os portugueses chegaram à China já no início do século XVI, pouco mais de uma década depois de Vasco da Gama ter chegado à Índia pela primeira vez. Daí para cá, só durante a ditadura do Estado Novo é que essas relações “esfriaram”. Depois do 25 de abril, com a chegada da democracia, Portugal reconheceu finalmente, em 1975, a República Popular da China.

Cantão (Guangzhou) foi desde sempre a grande porta de acesso à China. Aí, a ladear a entrada para a grande baía do rio das Pérolas (em chinês: Zhu Jiang), temos de um lado Hong Kong e do outro Macau. Duas realidades muito distintas que ilustram o legado das relações dos chineses com o Reino Unido e com Portugal. A transição de soberania de Macau de Portugal para a China foi particularmente tranquila. Mas nos últimos anos, apesar das notícias de grandes negócios com o estado chinês, e de termos uma comunidade bastante significativa de chineses em Portugal, Macau não tem tido muita presença no nosso espaço mediático.

Talvez essa realidade se altere com a visita do chefe do governo de Macau, Ho Iat Seng, ao nosso país. Do ponto de vista diplomático e empresarial, Macau poderá continuar a ser uma porta aberta a negócios proveitosos para ambos os países. É isso que se espera, pelo menos, e que a expressão que referi na abertura deste editorial não caiba neste contexto.

Com a pandemia, as relações entre China e ocidente voltaram a ficar marcadas pela desconfiança, particularmente com os Estados Unidos da América. Vivemos momentos de grande instabilidade internacional, com a Guerra da Ucrânia como pano (manchado) de fundo.

Por tudo isto, ter na “sala” da diplomacia “adultos” que se saibam entender é de vital importância. Esperamos que Portugal, à sua dimensão, possa dar um contributo de cordialidade e assertividade que contribuam para o restabelecimento de boas relações internacionais entre os mais variados países – o mais rapidamente possível.