EDITORIAL | JUNHO 2023

É um cliché dizer que o saber não ocupa lugar porque, para além das possibilidades que o ensino abre, também nos acrescenta enquanto seres humanos. Numa altura em que atores de instituições democráticas dão exemplos de uma falta de saber estar na causa pública (para dizer o mínimo), perguntamo-nos que percursos de vida tiveram estas pessoas. Mas este é um assunto que não cabe aqui, o ponto de partida para uma edição onde o ensino está fortemente representado. E falar de ensino é falar de futuro.

Que desafios enfrenta o ensino já no imediato e nos próximos anos? Uma vertente tem que ver com a transferência de saberes da Academia para a sociedade. Apesar dos esforços nos últimos anos, há uma aproximação ainda insuficiente entre as Faculdades e os Politécnicos e o tecido social e empresarial, o que tem dificultado a integração de licenciados. A interiorização da ideia de que a aprendizagem ao longo da vida é essencial à progressão na vida profissional é outro aspeto apontado pelos especialistas em educação. O aperfeiçoamento de competências e a aprendizagem de novas é essencial num mundo em mudança acelerada onde a reconversão profissional pode ser uma exigência para a permanência no mercado laboral.

Entramos aqui no avanço da Inteligência Artificial (IA) e no impacto que esta pode ter no percurso educativo. Sobretudo a IA generativa, os sistemas que, como o ChatGPT, são capazes de produzir conteúdos originais como textos, representam um dos maiores desafios para quem ensina e aprende. Estes devem possuir a literacia digital que lhes permite utilizar os novos recursos de forma responsável e aos educadores cabe passar esta mensagem.

É que embora já haja universidades a usar ferramentas que detetam o plágio quando são utilizadas estas ferramentas, a honestidade intelectual deve partir dos alunos. Ética na aprendizagem, mais tarde transferida para a ética no trabalho é, afinal, o que esperamos das gerações mais bem preparadas de sempre.