Chefe do Executivo de Macau visita Portugal

A primeira deslocação oficial do Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, fora da China, é a Portugal, já em abril. Esta escolha está a ser encarada com especial relevância a nível político, uma vez que o cenário provocado pela crise pandémica foi de congelamento dos contactos políticos além-fronteiras.

De acordo com a revista Comunidades, “a viagem está a ser preparada de forma intensa pelos canais diplomáticos de ambos os lados, como é tradicional nestes casos, até porque em Por-tugal a política externa tem dupla competência. Confirma-se o envolvimento direto da Presidência da República nesta visita, o que quer dizer que Ho Iat Seng será recebido por Marcelo Rebelo de Sousa”. Também o primeiro-ministro, António Costa, terceira maior figura do Estado, está confirmado como um dos anfitriões da visita.

Dentro da agenda “já tão preenchida” do Chefe do Executivo de Macau, estão a ser feitos todos os esforços para que seja recebido pelos três maiores nomes do protocolo de Estado da República Portuguesa. Esta receção em Lisboa será à altura da de um Chefe de Estado, com formalidades bastante superiores às de um líder de uma Região Autónoma Especial. “Claramente, uma agenda formal ao mais alto nível por parte de Portugal, que concede a Ho Iat Seng um tratamento bem acima do seu estatuto político”. João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros, também vai receber o Chefe do Executivo de Macau, ainda que, neste caso, a data concreta seja uma incógnita, visto que terá de ser agregada a uma agenda que começa a ficar bastante composta.

Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, também demonstrou interesse em receber Ho Iat Seng na cidade invicta. Porém, ainda não foram confirmados quaisquer detalhes desta deslocação. “Mas é um facto que Rui Moreira deu atenção especial à geminação do Porto com Macau, figura que raramente é explorada pelas cidades portuguesas. Relação essa que foi alimentada pelo governo de Chui Sai On, que foi ao Porto naquela que foi a última missão de um líder da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) em Portugal, com particular empenho nos anos seguintes por parte de Alexis Tam – primeiro como chefe de gabinete; depois como secretário para os Assuntos Sociais, Educação e Cultura do anterior Chefe do Executivo”, menciona a Comunidades.

Este mesmo órgão de comunicação social adianta, ainda, que a visita do Chefe do Executivo de Macau a Portugal tem como desígnio “a importância da língua e da cultura portuguesa como fator diferenciador e uma vantagem competitiva de Macau em relação a outras regiões da China”. Esta visita poderá ser fulcral para reforçar as relações bilaterais Portugal–China. Alexandre Leitão, Cônsul-Geral de Portugal em Macau, enfatizou que a escolha de Portugal como primeiro destino para uma viagem oficial de Ho Iat Seng fora da China “é um gesto muito simbólico, mas muito claro”. Continuou, realçando que “o Chefe do Executivo fez questão de dizer que não é por acaso e que não é só porque é uma tradição. É claramente uma vontade de dar um sinal da excelência das relações entre Portugal e a República Popular da China, daí a importância que Portugal tem para Macau e que Macau tem para Portugal”. Uma importância que Ho Iat Seng quererá ver também, naturalmente, revalorizada e reassumida pelas autoridades portuguesas competentes que o vão receber ao mais alto nível.

Na opinião de Alexandre Leitão, sublinhada por Ho Iat Seng, a visita a Portugal pode ser “um momento importante para clarificar – a quem possa ter dúvidas, e nós não as tínhamos – que o Governo da RAEM tem uma noção clara da importância de Portugal, da língua, da cultura e da comunidade portuguesa aqui e que lhe entende dar o devido valor”. “Foi assim que interpretei as suas palavras”, afirmou o diplomata. Esta agenda, ainda que não confirmada pelas autoridades da RAEM e de Portugal, está a ser interpretada em Macau como um sinal político “fortíssimo” por parte do Governo de Macau e da China, no sentido de reforçar as relações diplomáticas com Portugal e o próprio conceito de Macau como plataforma lusófona.

Em Lisboa esta visita está a ser vista da mesma forma, “dado o longo interregno nas relações diretas provocado pelo isolamento de Macau” durante o período da política de Covid-zero, que coincidiu com o mandato do atual Chefe do Executivo. “Esperamos que Macau e a China percebam o sinal que Lisboa está a dar”, que se assume, essencialmente, como “um sinal de boa vontade e uma aposta no futuro; e não propriamente com o que se passou nos últimos tempos”, afirma uma fonte portuguesa à mesma publicação. Outra fonte envolvida no processo diz que “esta é uma resposta clara de Portugal à relação que quer ter com Macau, numa altura em que o ambiente político na Europa e na sua Aliança Atlântica cria bloqueios” no que diz respeito às relações com a China. Espera-se ainda que Portugal e Macau possam, temporariamente, ser um canal de diálogo entre Bruxelas e Pequim, retirando daí oportunidades para as empresas e economias locais com efeitos duradouros.