EDITORIAL | JULHO 2024

Sempre que me deparo com uma árvore centenária, nunca deixo de me comover. O tempo destas nossas amigas “eternas” tem uma cadência muito diferente da nossa. E uma floresta é mais do que um conjunto de árvores, é um ecossistema interligado, que funciona em conjunto numa perfeição só alcançável pela Natureza.   

Todos sabemos que Portugal tem na sua floresta um património inestimável. É assim com quase todos os países com condições climatéricas favoráveis. Os pulmões do planeta não são só as selvas tropicais e toda a gente deveria preocupar-se em plantar árvores e plantas nos seus espaços, ainda que exíguos. Basta pensar naquela sensação de frescura que sentimos, quando circulamos numa cidade e nos deparamos com uma varanda cheia de plantas – até parece que respiramos melhor.

Mas se “uma árvore não faz a floresta”, o que é então uma floresta? Sim, seguramente um terreno com muitas árvores, mas quantas? Socorro-me então do sistema de classificação criado pela Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) que define uma floresta como um terreno “com coberto arbóreo superior a 10 % e uma superfície superior a 0,5 hectares.” Para quem não consiga visualizar facilmente as dimensões de meio hectare, podemos dizer que é sensivelmente meio campo de futebol – comparação muito utilizada no jornalismo nacional.

Certo é que a nossa floresta mudou muito ao longo das últimas décadas. A percentagem de carvalhos, castanheiros e sobreiros, assim como de outras espécies autóctones foram dando lugar a cada vez mais eucaliptais. Mesmo o pinheiro-bravo, cuja plantação começou a expandir-se grandemente na idade média, tem vindo a recuar.

Os eucaliptos crescem muito mais rapidamente, dando um rendimento aos seus proprietários em tempo de vida, que seria impensável em árvores centenárias de crescimento lento. E sabemos que a maior parte da floresta portuguesa é privada, o que dificulta políticas nacionais de incentivo a outro tipo de espécies. No entanto, quando vemos tantos espaços urbanos, da competência das autarquias, a serem despojados de qualquer árvore, perguntamo-nos se o país seria realmente diferente se a floresta fosse “nacionalizada”.

O bom exemplo que temos remete-nos para o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a primeira área protegida criada em Portugal, a única com o estatuto de Parque Nacional. Este é um dos últimos redutos do país onde podemos encontrar ecossistemas no seu estado natural, com influência humana reduzida e controlada.

Dito tudo isto, e partindo do princípio de que a preservação da nossa biodiversidade é um tema consensual, só podemos acreditar que este tema seja uma prioridade para o país, independentemente de quem o lidera, nos vários ciclos legislativos.