Opinião – Bernardo Mendia, Secretário-Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa

O Chefe do Executivo do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Ho Iat Seng, visita Portugal na terceira semana de Abril. A deslocação está a ser encarada com grande relevância pelas autoridades portuguesas, em função da história que une Macau a Portugal, o facto de ser a primeira deslocação do responsável político ao estrangeiro, e porventura por se tratar de um canal de comunicação privilegiado com Beijing. É provável que importância semelhante seja atribuída por Beijing, como aliás indicia a “visita de cortesia” que Ho Iat Seng fará de seguida à Comissão Europeia em Bruxelas.

O líder político far-se-á acompanhar de uma delegação empresarial e do setor de comunicação social, na expectativa da promoção da cooperação e intercâmbio nos domínios do ensino do português, ciência e tecnologia, área farmacêutica e economia marítima. Do lado português, é igualmente apreciável a atual importância atribuída à China e Macau, onde a AICEP conta com quatro escritórios e a diplomacia portuguesa está presente com o mesmo número de representações entre a Embaixada em Pequim, Consulados-gerais em Macau, Xangai e Cantão, e ainda o escritório do Consulado Honorário de Portugal em Hong Kong. Temos ainda um relevante escritório do Turismo de Portugal e participação no Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, bem como uma Delegada no Secretariado Permanente do Fórum de Macau. Joga-se também neste enorme país e segunda maior economia do mundo a competitividade de Portugal e vários desafios externos complexos.

Um dos temas na agenda será certamente a Área da Grande Baía (acrónimo em inglês: GBA). Sendo um conceito ainda desconhecido da generalidade do público português, importa esclarecer que se trata de um projeto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra as Regiões Administrativas de Macau e Hong Kong mais nove cidades da província de Cantão, num total de 80 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) superior a 1500 biliões de euros, semelhante ao PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20. O plano de criação da GBA começou a ser referido em 2017, tendo sido explanado num documento oficial, pela primeira vez, em 2019, onde são detalhados os conceitos de como transformar as onze cidades numa potência económica global. O projeto visa encorajar os governos de Macau, Hong Kong e Cantão a fortalecera comunicação e a cooperação entre si e promover a ideia de colaboração transfronteiriça. Macau, Hong Kong, Shenzhen e Guangzhou são as principais cidades e motores centrais da GBA para liderar o desenvolvimento e a reforma regional, bem como as forças motrizes para a inovação e economia. Os processos de transformação e a escala das economias em causa criarão inevitavelmente muitas oportunidades de negócio. É por isso que a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), juntamente com a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong se juntaram para organizar uma missão empresarial à GBA, que decorrerá nos próximos dias 4 e 9 de Junho.

Fundada em 1978, a CCILC foi elemento catalisador do restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China, em 1979, e a primeira instituição privada que auxiliou ao desenvolvimento do relacionamento económico e comercial entre os dois países, nomeadamente através da sua presença pioneira em Macau com o estabelecimento de uma Delegação em 1992. Atualmente, a CCILC é o reflexo inequívoco do excelente relacionamento bilateral, com os principais grupos industriais e financeiros do universo luso-chinês a figurar nos seus órgãos sociais. É precisamente nesse contexto que o ano de 2023 adquire particular relevância. Além dos 45 anos da CCILC, assinalam-se ainda os 510 anos da chegada de Jorge Álvares à China, os 10 anos do anúncio da iniciativa Rota da Seda e os 20 anos do Fórum Macau. Tudo isto quando a China colocou termo às restrições da pandemia e reativou a atividade económica. Macau e Portugal podem ter um papel determinante na cooperação e diálogo da China com a Europa. Do ponto de vista económico e empresarial, esse papel passará seguramente pela GBA e por Macau. Bem-vindo a Portugal Senhor Ho Iat Seng!

Bernardo Mendia

Secretário-Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC).